A minha amiga de há 24 anos, mãe de um pequeno de quase 4 meses (e por sinal meu afilhado) publicou ontem à noite, no Facebook (claro) um (longo) texto sobre o quão difícil é ser mãe (ainda que seja maravilhoso). Achei curioso. Por várias razões.
Eu sei que nunca fui mãe (e estes textos tiram-me toda a vontade de algum dia vir a ser - a sério, como eu já disse a outras amigas minhas mães, ao ler/ouvir estas coisas eu sinto - mesmo a sério! - os meus ovários a mirrarem) mas não consigo deixar de achar um bocadinho fundamentalista e perigosa esta coisa do "vou dedicar todo o meu tempo ao meu filho" ou "eu não quero saber se tenho a mama toda lixada, a mim o que mais me interessa é que o meu filho esteja bem". Tudo bem, acredito que o bem-estar da criança passe a ser fundamental - e é bom que assim seja -, mas porra, e o bem-estar da mãe? Não será, também, importante?
Outra coisa curiosa é o ela dizer que "tomar banho é um luxo" e é impossível cozinhar sem deixar o bebé a chorar. Fala do mudar as fraldas, do dar o xarope. Fala que sair 5 segundos do campo de visão, ele chora. Esta é a parte mais curiosa e que mais me faz confusão. Porque eu sei, por conversas que já tivemos, que ela faz isto tudo SOZINHA. Porque o pai do bebé é um traste (a coisa mais simpática que consigo dizer dele) e que apesar de estar "presente", não está realmente presente. Porque passa o tempo que está em casa nessa atividade tão interessante e importante que é... Jogar computador. Assim é normal que ela não faça nada, porque é só ela a tratar do miúdo. Assim é natural que ele chore quando ela não está - simplesmente, porque é só ela a tratar dele.
Diz-me ela que, um dia que eu seja mãe (sim, ela é das que acha que se eu nunca for mãe nunca vou ser completa), eu vou compreender. Bem, sinceramente, acho que não. Sinceramente, se eu algum dia tiver filhos, o pai da criança vai ter que mudar fraldas, vai ter que cozinhar enquanto eu dou de mamar (se é que eu vou dar de mamar). Vai ter que ficar a tomar conta do miúdo quando eu for tomar um banho. Assim como eu vou tomar conta do miúdo quando ele for tomar banho ou eu vou cozinhar enquanto ele lhe dá o biberon. Simples. Serei ingénua por pensar que isto é possível? Espero que não. Se algum dia tiver filhos, sei que vai ser difícil, sei que não vai ser um mar de rosas, sei que vou ter falta de sono, sei que vou ler menos, correr menos, ter menos tempo para mim. Mas quero acreditar que o pai que eu escolher para eles vai contribuir para o desenvolvimento dos meus filhos. E não me vai deixar anular completamente.
Outra coisa em que eu não consigo deixar de pensar é na razão que leva as pessoas a partilharem estas ideias. O objetivo poderá ser, simplesmente, dar uma visão "real" da maternidade, em detrimento da ideia idílica que muitas pessoas mostram. Mas para além disso, parece-me que existe uma necessidade geral de as pessoas dizerem ao mundo que são espetaculares porque passam por tudo isto. São super-mulheres, super-mães, super tudo. Reparem, não é que eu não ache que não sejam - claro que são. Eu suponho que seja muito difícil e por isso mesmo é que não sei se quererei ser mãe alguma vez. Sou demasiado egoísta e individualista. Gosto demasiado de ter o meu tempo e o meu espaço sem ter um ser completamente dependente. Mas porquê escrever estes textos? Acho que também entra aqui um processo de racionalização. Do género "não, isto é fixe, eu gosto disto, isto é difícil, mas eu sou a super-mulher, super-mãe, super tudo".
Finalmente, o mais fixe deste tipo de coisas é mesmo a irmandade de mães. A sério, é mesmo giro ver pessoas que nunca se deram (e, na verdade, nunca se suportaram) comentarem como se fossem BFFs.