Comei um trabalho para Psicologia Social, no 2º ano da Licenciatura, dizendo
"O Homem é um conjunto de aspectos positivos e negativos que podem emergir
ou não, dependendo das circunstâncias em que se vê envolvido. Deste modo, não
se pode considerá-lo inerentemente consistente, dependendo as suas acções não
apenas da sua personalidade mas também da situação em que está inserido."
Zimbardo e colaboradores (1971) realizaram um estudo em que, de forma muito resumida e para toda a gente perceber, colocaram num espaço, que simulava uma prisão, dois grupos de jovens universitários. Um dos grupos seria os guardas prisionais e o outro os prisioneiros. Os primeiros dias foram tão violentos que os investigadores tiveram que abortar a investigação. Os "guardas prisionais" rapidamente assumiram um papel autoritário e violento, em que humilhavam os "prisioneiros". Os "prisioneiros", por seu turno, assumiram um papel submisso, em que aceitavam a humilhação e violência pratica pelos "guardas prisionais".
Foi uma coisa bonita e que demonstrou como é fácil as pessoas, ao fazerem parte de um grupo, perderem a sua identidade pessoal, os seus valores, a sua consciência ou responsabilidade, desenvolvendo, por exemplo, comportamentos anti-sociais. É a chamada teoria da Desindividualização e que eu acho que, na verdade, explica muita coisa.
Explicará, por exemplo, os comportamentos perpetrados pelas SS na II Guerra Mundial ou os comportamentos dos militares americanos em Abu Ghraib. Zimbardo, aliás, deu uma conferência TED em que relacionava o Stanford Prison Experiment com Abu Ghraib.
E explicará, também, os comportamentos a que assistimos nos últimos dias e que nada têm a ver com clubismos. A Psicologia também explica o amor / ódio relacionado com o futebol, mas isto é uma coisa diferente. Isto é abuso da Polícia só porque pode. Isto é a violência das pessoas e roubar porque estão em grupo, porque a coisa se proporcionou. Claro que aquilo a que se assistiu é diferente do Stanford Prison; no entanto, julgo que o princípio é o mesmo. O ser humano, por mais que queiramos acreditar no contrário, não é inerentemente bom - ou mau. Pelo contrário, dependendo das circunstâncias, o ser humano pode cometer actos bons ou actos maus. Das circunstâncias e do grupo em que está inserido.
Acredito que pelo menos algumas das pessoas que pilharam o estádio dissessem, anteriormente, que seriam incapazes de fazer o que depois fizeram. And yet... É estúpido, é ridículo. Aquelas imagens passam um atestado de estupidez, de falta de civismo. Mas, infelizmente, não me surpreende.
A Psicologia explica e a verdade é que o ser humano é estúpido.
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