sábado, 10 de janeiro de 2015

Divagações

Às vezes pergunto-me acerca daquilo que é necessário para não se ser uma pessoa "sozinha". E chego à conclusão que se calhar é preciso ter algum grau de dependência das outras pessoas. Que eu não tenho. Sim, posso ter saudades. Sim, posso sentir falta e sentir-me triste por não estar com certas pessoas. Mas não me considero uma pessoa dependente de pessoas. 

Ou pelo menos, não me vejo a fazer aquilo que vejo as pessoas à minha volta fazerem. 

Ontem à noite uma das minhas amigas que casou em 2014 disse, meio a brincar meio a sério, "eu e o N. agora somos um só". Ora, eu estava de mau  humor, tendo sido ela, na verdade, a causar algum desse mau humor. Então disse-lhe, meio a brincar meio a sério, "epá, mas isso é só triste." 

Outra amiga minha, que eu até a considero uma miúda bastante independente, quando sai com o namorado muda completamente o registo. Aconteceu, e mais do que uma vez, estarmos num café e ela virar-se para o namorado e dizer "oh G., pede aí ao empregado que traga [....]". 

Outra situação: tinha combinado ir tomar café com outra amiga minha. Chegámos, o café estava cheio e ela disse "ah, temos que encontrar uma mesa com mais uma cadeira, porque o P. depois vem cá ter". 

Outra situação: um rapaz que eu conheço e por  quem eu até me posso ter, eventualmente, interessado há uns meses arranjou, algures nesses meses, uma namorada. Namoram, segundo consta, desde Maio. Vão viver juntos agora e decidiram-no aí em Novembro, passados 6 meses de namoro. O mesmo rapaz resolveu pôr, na sua imagem de capa no Facebook, uma fotografia deles os dois pirosona fofinho-coiso. 

Isto são apenas alguns exemplos daquilo que vejo a acontecer à minha volta e que geram alguma incompreensão em mim. Será que para se estar numa relação é preciso ser-se dependente do rapaz e ser-se lamechas e precipitada? É que se sim... Então pronto, estou mesmo destinada a ficar sozinha. Para sempre. E até sem amigos, porque são os meus amigos que fazem estas coisas. E se os meus amigos são tão dependentes dos respectivos e das suas relações, então vão acabar por deixar para trás a amiga solteirona. 

No primeiro caso, a conversa continuou, mas sim, acho triste que uma miúda de 26 anos, nascida no século XX e criada no século XXI, diga, ainda que "a brincar", que ela e o marido são "um só". Não são um só. São duas pessoas distintas, diferentes, que se conheceram, apaixonaram-se e casaram passados 6 anos e meio. Não são um só. Continuam a ter necessidades distintas, características distintas. Ela continua a ir à missa, ainda que ele não vá, e ele continua a correr, ainda que ela não vá. São pessoas distintas e não é porque casaram que têm que fazer tudo juntos. Embora pareça, de facto. Acho que tirando a missa, as corridas e os trabalhos, eles fazem tudo juntos. Mas isso a mim não me parece normal. Nem saudável. Não me parece normal que desde já não me lembro quando, não haja um jantar só das raparigas. Nós somos umas chatas, mas não me apetece falar de alguns dos meus dramas na presença dos respectivos. No caso do N. seria diferente, porque ele é "uma de nós", mas, ainda assim, sim, preferiria falar dos meus dramas só com raparigas. No entanto, tal seria irrelevante, porque estas pessoas são tão agarradas aos respectivos que a seguir lhes vão contar tudo. E, se "bobear", contam também às amigas que não são minhas amigas. 

Situação 2: Isto é coisa que me irrita. Mesmo. Então as pessoas são tipo Hello Kitty, essa boneca estúpida que não tem boca para falar? É preciso pedir ao namorado que faça uma coisa que ela pode perfeitamente fazer? Porque é que se faz isso? Para ajudar o ego do namorado para que ele se sinta importante? Mas isso é só parvo! Porque, na presença do macho, a menina tem que ficar feita donzela indefesa? Mas isso é só parvo! Não me interpretem mal... Uma das coisas que sinto falta é saber que pode haver alguém, para além dos meus pais, que me pode "proteger" caso seja necessário ou dizer vai ficar tudo bem. Mas isso não envolve pedir ao namorado que faça coisas que nós poderíamos perfeitamente fazer. Nós somos miúdas nascidas no século XX e criadas no século XXI, temos autonomia, pela qual as nossas avós e mães lutaram, e temos que a aproveitar, quanto mais não seja para honrar a sua luta. 

Situação 3: Naquele caso, eu percebo que, devido às circunstâncias, em certas situações dê muito jeito que o namorado vá. No entanto, aquela não era uma dessas situações. E eu queria era estar com a minha amiga, não com a minha amiga e o namorado. Mas custa assim tanto perceber isso? Perceber que as pessoas podem querer a companhia só da amiga e não do namorado da amiga? Ou será que é a minha companhia que começa a ser desagradável e, como tal, é preciso ter o namorado como back up?  

Situação 4: Talvez o facto de eu poder ter estado, eventualmente, interessada no rapaz me torne pouco objectiva. Mas não é só isso. Acho mesmo que ir viver junto passados 6 meses de namoro é mau. Ainda não se conhecem completamente. Ainda estão na fase de "lua de mel" do namoro. Como em tudo, pode correr bem ou pode correr mal, mas acho que ir viver juntos passados 6 meses é abusar um bocadinho da sorte. E a lamechice da fotografia... Bom, se calhar, ainda bem que o meu "eventualmente interessado" não passou disso mesmo. Não sei até que ponto é que eu, que sou assim, resultaria com uma rapaz que é de outra forma e tão diferente. 

Observando tudo isto, pergunto-me: será que para se estar numa relação é preciso ser lamechas? É preciso ser precipitado? É preciso ser dependente? É preciso "diminuirmo-nos"? Eu sei que a partir do momento em que estamos numa relação, temos, sim, que pensar que deixámos de ser só um e que é preciso ter isso em conta. Mas uma coisa é uma coisa... Outra coisa é outra coisa. E se a outra coisa é verdade então... Acho que vou ficar sozinha para sempre. 

3 comentários:

Maria disse...

Compreendo tao bem o que dizes... deve ser por isso que aos 25 anos não existem ex-namorados na minha vida e por este andar vou continuar assim... as vezes começo a achar que não tenho capacidade para amar.

B.L. disse...

Maria, acho que, mais ou menos, todos nós temos a capacidade para amar. Pode é não ser uma forma de amar igual à das outras pessoas, o que não significa, acho, que seja pior ou melhor ou maior ou menor. É diferente, apenas ;)

Maria disse...

Pois, talvez. Tenho que descobrir a apreender.