domingo, 11 de janeiro de 2015

Divagações, segunda parte

Se calhar, não importa que vivamos no século XXI, não importa que trabalhemos fora de casa, não importa a liberdade e independência que, teoricamente, conquistámos. 

As mulheres continuam a ser inferiorizadas em relação aos homens. Em tudo. Continuam a ser mais as mulheres que são vítimas de violência doméstica. Continuam a ser as mulheres que são violadas nas ruas porque vestem uma minissaia e "estavam a pedi-las". Continuam a ser as mulheres que ganham menos que os homens, desempenhando, muitas vezes, as mesmos funções. Continua a ser exigido às mulheres que realizem as tarefas domésticas, sendo um bónus os homens que as "ajudam". Se os homens não "ajudarem", é aceitável, percebe-se, não é a função do homem estar a limpar casas de banho; se as mulheres não conseguirem cozinhar ou não conseguirem manter a casa arrumada e limpa, são péssimas mulheres, o que é que as mães (sim, as mães e não os pais) lhes ensinaram. Etc. Etc. Etc.

São as mulheres que são largadas pelos namorados / maridos e que ficam na lama por causa disso. Sabendo-se que um namoro acaba, não se pensa "foi ela que acabou com ele". Pensa-se "foi ele que acabou com ela." 

E isso é mau.

Porque são, também, as próprias mulheres que se inferiorizam. São as mulheres que se tornam submissas aos homens, mesmo que inconscientemente. Seja por acções ou por palavras. 

Na noite da PDA, soubemos que o namoro de uma amiga nossa, que não foi, tinha terminado. Ela enviou-nos uma mensagem a dizer que ela e o agora ex-namorado tinham acabado. Não disse nem que tinha sido ela a acabar nem que tinha sido ele a acabar. 

Entretanto, soubemos que outras coisas na vida dessa amiga nossa não corriam bem. É uma amiga da faculdade e não encontrando trabalho na área, agarrou aquilo que apareceu, que foi um trabalho num supermercado. 

Ao sabermos disso, a mesma amiga que disse que ela e o marido eram um só, ainda sem saber por completo a história do namoro, disse "eu nem quero imaginar o que é que a J. está a passar. Nesta fase da vida, fica sem namorado, não arranja trabalho...". Respondi-lhe que sim, que o trabalho era grave, mas que o ficar sem namorado não tem que ser necessariamente mau. Que podia ter sido ela a acabar com ele. E que mesmo que ele tivesse acabado com ela, isso não tinha que ser necessariamente mau. 

Mas é isto. Para uma rapariga de 26 anos, não ter homem "nesta fase da vida" é mau. Eu sei que às vezes é  mau. Eu sei. Mas não sou menos mulher por causa disso. Eu não me quero definir enquanto pessoa mais ou menos bem sucedida pelo facto de ter ou não homem. Não me quero sentir sozinha, é certo, mas não me acho mais ou menos bem sucedida por ter 25 anos e não ter "homem". E a mim entristece-me pensar que existem miúdas de 26 anos que definem o sucesso das pessoas por isso.

E leva-me a pensar... O que é que elas acharão sobre mim? O que é que ela conversa sobre mim nas minhas costas? Que eu sou uma completa falhada?



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