domingo, 21 de junho de 2015

[Já não quero saber de ti. A sério que não. Não quero saber se vais para o fim do mundo, se te fazes a mil raparigas ao mesmo tempo. Não quero saber, não é novidade nenhuma. 

E claro  que, neste contexto, nos encontrámos na "aldeia" que é esta terra. 

Não quero saber de ti. Não quero. 

Não quero saber o que fazes, com quem fazes. É-me indiferente. E por me ser indiferente, cumprimento-te. Não fujo, não me engasgo. Cumprimento-te, como se cumprimenta uma pessoa que se conhecia. E tu cumprimentas-me da mesma forma. Parvo. 

Perguntas-me se vou contigo a uma das barracas que vendem coisas. Não quero saber, és-me indiferente, e a minha companhia é uma treta. Por isso, vou. 

Perguntas-me como é que eu estou. Estou bem, respondo. Esperas que diga mais alguma coisa e percebes que afinal eu tinha razão quando dizia que era um pequeno bicho do mato. Acabo por conceder e pergunto-te como estás. Estás bem, respondes. 

Ficámos em silêncio. Tinha tanto para te dizer, há um ano, tanto para te perguntar, e agora fiquei sem palavras. Porque não vale a pena. Porque já não quero saber. Ofereces-me uma caipirinha porque "é a tua bebida favorita". Parvo, lembras-te disso? Aceito e tu bebes a tua mini. 

Perguntas-me coisas, perguntas-me como vão os trabalhos, como correu o ano, como foi a readaptação à Faculdade. Perguntas-me como está a capirinha. Estão quase a acabar, finalmente; correu bem; foi fácil; está boa. Perguntas-me  porque estou tão calada. Penso que essa é uma pergunta idiota, caraças. Se começo a dizer tudo aquilo que tenho entalado, nunca mais me calo. E ias achar-me uma maluca. Encolho os ombros. Não tenho muito para dizer, acho, respondo. Ris-te - como não tens muito para dizer? Tu tens sempre que dizer alguma coisa. Nós conhecemo-nos porque tinhas que dizer alguma coisa, dizes. Não, isso era um dos meus lados. Estou em modo de "não tenho muito para dizer", respondo. Se digo tudo o que penso...

Se calhar não. Se calhar não me é tão indiferente. Se calhar, é isso mesmo. Se calhar deixar coisas por dizer faz mal às pessoas. Tenho tantas coisas para dizer, para perguntar. Mas ao dizer-tas, ao fazer-tas, ia dar-te mais importância que aquela que tu mereces. E não o quero fazer, não o vou fazer. 

Ficas à espera que eu diga alguma coisa e eu entretenho-me com a caiprinha. Está uma treta.

Magoaste-me, sabes? Magoaste-me porque fizeste por "entrar", fizeste-me achar que eu podia ser alguma coisa para ti. Eu deixei-te entrar um bocadinho e depois, não quiseste saber. Magoaste-me, foste parvo. E, durante muito tempo, apesar disso, eu deixar-te-ia entrar de novo. E isso faz-me sentir idiota. E estúpida. Porque eu nunca gostei realmente de ti, achava eu, e mesmo assim tinhas este poder sobre mim. Até que te deixei ir de vez. Faz o que quiseres, vai para o fim do mundo, faz-te a quem quiseres. Depois não te queixes de estar sozinho. Faz o que quiseres, com quem quiseres. Mas deixa-me. Não me faças sentir outra vez sem controlo - isso é o pior que me podem fazer, logo a mim, que sou uma control freak. Deixa-me, vai à tua vidinha, que eu fico por aqui a interessar-me por alguém com quem eu tenho alguma coisa a ver. Não entres na minha cabeça, impedindo-me de tentar as minhas hipóteses com essa pessoa. Deixa-me ir. Já não quero saber das perguntas, já não quero saber do que tenho para te dizer. Deixa-me ir. 

Tenho que me ir embora, digo. É chato, vieram comigo e agora desapareci. Obrigada pela caiprinha. Se não falarmos antes, boa viagem para a terra dos malucos. Tem cuidado.

Fui ter com a minha outra companhia de treta. Deixas-me ir. Deixa-me ir... 

Fartei-me e vim-me embora. Não dava mais. Quando cheguei à saída, estavas lá, à espera não sei muito bem do quê.

Estava à tua espera, dizes. Vais dizer-me o que tens a dizer ou vais deixar-me ir embora sem o dizer?
Sim, era esse o plano, respondo. Já não quero saber. Então leva-me a casa, pediste-me. A minha boleia quis ir embora mas eu quis ficar aqui, a ver se te encontrava. Vais deixar-me ir a pé para casa?]


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