Hoje resolvi fazer uma espécie de arrumação ao meu quarto. Já há algum
tempo que tinha vontade de tirar umas coisas, e agora, com as aulas a começarem
daqui a 15 dias e a precisar de espaço para os dossiers que, sei, vou precisar,
resolvi que era uma boa altura para fazer essa arrumação.
(Na verdade, precisava também de ocupar o corpo e a cabeça para não
estar a remoer mais no que não vale, definitivamente, a pena).
E cheguei, novamente, a uma conclusão: tenho uma capacidade tão grande
para acumular guardar lixo coisas que deveria receber um prémio
por isso. Ora, enquanto via a montanha de lixo coisas a crescer, comecei
a pensar que, se calhar, os processos que estão por trás do acumular, do não
conseguir deitar estas coisas fora, são os mesmos que estão por trás da minha
falta de capacidade de “deixar pessoas para trás”, de deixar o passado para
trás das costas, de não conseguir esquecer, mesmo que não tenha sido tão importante
ou grandioso.
Olhando para coisas que estão guardadas desde há 10 anos, que não me
servem para absolutamente NADA, mas que, mesmo assim, sou incapaz de deitar
fora, questiono-me se estarei de alguma forma “destinada” para, daqui a 10
anos, ainda me lembrar do que não devo, de ter saudades do que não devo, de
guardar para mim o que não devo. Pergunto-me se existe alguma coisa em mim que
me impede de deixar para trás, de avançar. Seja com lixo coisas, seja
com pessoas.